...-Eu preciso de muito dinheiro - era o ponto final. Um passinho adiante era a escuridão. Discutiam. Espancavam-se um ao outro. Um dizendo daqui, outro dizendo dali, esse gritando e xingando o outro chorando. Aquele perereco dos infernos. mas todos falando:
-Eu preciso de muito dinheiro!
Ficaram usando máscaras até o fim de seus dias, quando a morte veio e lhes roubou as fantasias. Foi uma pena! Coisa de dar dó! Pois morreram sem saber quais as cores de seus olhos. Os filhos chegaram ao fim da vida sem conhecerem a verdadeira cor dos olhos de sua mãe. E carregaram a vida inteira o semblante de pessoas infelizes e frustradas.
Eles se esqueceram de que a Vida era uma boca cheia de risos. Um barco colorido cheio de enfeites, confetes e bandeirinhas. Esqueceram-se de que havia o verde das águas e tinha o azul do céu. Tinha os raios do sol durante o dia, o luar dentro da noite e o riso de mil estrelas no firmamento. Esse era o barco de sua travessia: muito amor e muita poesia. Porém se esqueceram de tudo isso...!
(do Livro Amanhã será melhor, J. Alves)
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