Achei interessantíssimo esse artigo de Josiel Vieira sobre os gatos, animal que eu amo de paixão! Acho-os sensuais, elegantes, de personalidade forte...
"Animal misterioso e fascinante, amado por uns e odiado e perseguido pela maioria, ele passa imponente por todos caminhando solitário pelos muros noturnos e miando suas brigas e seus amores para a lua, provocando a ira dos humanos civilizados que precisam acordar bem cedo para ter mais dinheiro.
O gato gosta de areia e evita tomar banhos porque seu ancestral viveu nos desertos, tendo sido venerado pelos egípcios, que por sinal tinham uma deusa com cabeça de gata e rodeada de filhotes aos seus pés, a Basthet. Quando a deusa-gata estava feliz, ela dançava. Quando estava furiosa, sua cabeça de gata virava uma cabeça de leoa. Seu estado de humor estava sempre se alternando, como as fases da lua e como o ciclo menstrual humano. O gato tem em si muito do universo feminino (e a mulher possui muito da alma da gata), mas também carrega um simbolismo masculino singular. Se fosse homem, provavelmente o gato seria um pirata, um cavaleiro árabe antigo ou um esguio baiano lutador de capoeira. Certamente não seria um norte-americano de classe média, a menos que fosse como o Garfield. Por ter esse ar misterioso e sensual e trazer uma simbologia associada ao mágico, à intuição e à noite, milhares de gatos foram mortos durante a Idade Média - milhares de gatos e milhões de mulheres, ambos acusados de ter parte com o Diabo. Até hoje persiste a imagem da bruxa gargalhando pela noite com seu gato preto, preconceitos sombrios perpetuados por lendas sem fundamento e pelo medo que os ignorantes têm pelo desconhecido. A peste negra que assolou a Idade Média só ocorreu porque quase não havia mais gatos para caçar os ratos. Sem seu predador natural, os roedores se espalharam pela Europa, e consigo levaram suas doenças, como a peste bubônica. A Peste Negra é um exemplo objetivo do que a ignorância pode produzir. O gato pode gostar de qualquer pessoa que estiver passando na rua, em frente ao seu portão. Ou então ficar indiferente. Ou então fugir. Já os cachorros latem para todos os desconhecidos, como se bastasse o fato de alguém lhe ser estranho para ser seu inimigo. Cães como rotweillers são ainda piores. Volta e meia aparece na imprensa uma criança que foi morta por um desses bichos. Teve um caso em que uma casa foi invadida e o rotweiller, ao invés de morder os ladrões, estraçalhou a própria dona! A propósito, muitos compram cães por "motivos de segurança". E "por motivos de segurança" praticam jiu-jitsu, cercam suas casam com arame eletrificado, votam no Afanásio, no Conte Lopes e no Maluf. É por "motivos de segurança" que os Estados Unidos estão fazendo o que querem com o mundo. Um mesmo padrão de pensamento move muitas coisas. Então que tal se, em vez de jiu-jitsu se pratique meditação, em vez de cercas eletrificadas se pratique uma política de boa vizinhança com o pessoal de sua rua, em vez do voto no Afanásio se entre para uma ong que tente ajudar no problema dos menores de rua?
Convido ao leitor desse artigo que preste atenção no modo de ser desses pequenos felinos que já foram tão injustiçados ao longo da história. No fundo eles são como nós. Ou nós somos como eles.
Saia à noite, sentindo a liberdade lhe eriçar os pêlos, e se insinue para outros gatos e outras gatas que encontrar pelo caminho. Olhe nos olhos dela (e) o mesmo mistério que ela (e) estará vendo nos seus. Espero que a lua esteja bem alta nessa hora.
Josiel Vieira